Vida noturna frenética, gastronomia para gostos variados, cultura acessível e programas alternativos são alguns dos maiores atrativos da cidade. O que poucos turistas e mesmo moradores da capital não sabem é que há muita história em locais secretos, guardados nas catacumbas e subterrâneos de São Paulo.
A recente exumação dos restos mortais D. Pedro I e de suas duas mulheres, D. Maria Leopoldina e D. Amélia, divulgado em fevereiro, fez vir à tona discussões que podem, inclusive, influenciar a história de São Paulo. Junto da abertura dos caixões saíram da tumba fatos curiosos, como o fato de D Pedro I ser bem mais baixo do que se supunha, Dona Leopoldina ter sido enterrada com a mesma roupa de sua coroação, em 1822, e Dona Amélia estar totalmente de preto no caixão, o que revela que ela guardou um luto de 42 anos, após a morte do Imperador.
A exemplo do Museu do Ipiranga, outros pontos da cidade guardam mistérios e restos mortais de personagens célebres. VEJASAOPAULO.COM investigou esses esconderijos. Confira.
Museu da Independência
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1 de 7 Imagem do processo de tomografia da Dona Amélia (Foto: Valter Muniz)
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2 de 7 Durante a exumação, os arqueólogos tiveram uma surpresa com o corpo de Dona Amélia (Foto: Valter Muniz)
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3 de 7 Os restos mortais de Dona Amélia estavam bem conservados (Foto: Valter Muniz)
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4 de 7 Momento da exumação dos restos mortais de D Pedro I (Foto: Beatriz Monteiro)
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5 de 7 Imagem da tomografia da Dona Amélia (Foto: Faculdade de Medicina da USP4)
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6 de 7 Imagem da tomografia de D. Pedro I (Foto: Faculdade de Medicina da USP)
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7 de 7 Imagem da tomografia da Dona Leopoldina (Foto: Valter Muniz)
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Abaixo do monumento repousam os restos mortais de D. Pedro I e suas duas esposas, D. Maria Leopoldina e D. Amélia. A cripta, construída em 1952, tem diversas exposições que contam a história da Independência do Brasil. Luzes baixas criam um clima bucólico no espaço, que conta com funcionários bem dispostos a darem detalhes das façanhas da família imperial.
A recente exumação dos corpos, comandada pela arqueóloga e historiadora Valdirene do Carmo Ambiel, foi tema de seu mestrado e, segundo ela, os resultados das pesquisas darão continuidade para seu doutorado. Como a segunda mulher de Dom Pedro I, Dona Amélia de Leuchtenberg, foi mumificada, seu corpo está preservado, incluindo cabelos, cílios e unhas.
Os restos mortais ficam escondidos atrás da parede, ao lado esquerdo ao túmulo do Imperador. Para assegurar que os corpos não se deteriorem, após a exumação, toda segunda-feira Valdirene faz uma análise dos caixões e dos restos mortais imperiais.
Algumas peças tiradas dos corpos exumados, como medalhas e brasões, estão em posse do acervo do Patrimônio Histórico de São Paulo e até o momento não há nenhuma previsão de que serão expostos ao público. Enquanto isso, vale a visita ao monumento, para ver de perto onde “dormem” esses protagonistas da história paulista.
Serviço: O local fica aberto de terça a domingo, 9h às 17h. Grátis.
Cripta da Sé
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1 de 11 A Cripta da Sé recebe cerca de 100 turistas por semana (Foto: Marcus Oliveira)
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2 de 11 O teto da Cripta da Sé é todo feito de tijolinhos no mesmo estilo da Catedral (Foto: Marcus Oliveira)
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3 de 11 Ao todo, quinze corpos de bispos portugueses e brasileiros estão enterrados na cripta (Foto: Marcus Oliveira)
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4 de 11 Uma das obras do local: Jó, o afligido do Senhor, assinada por Francisco Leopoldo (Foto: Marcus Oliveira)
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5 de 11 A cripta foi construída exatamente sob o altar da igreja (Foto: Marcus Oliveira)
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6 de 11 Estátua de mármore: São Jerônimo, assinada por Francisco Leopoldo (Foto: Marcus Oliveira)
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7 de 11 Réplica do Santo Sudário está exposta no altar da cripta (Foto: Marcus Oliveira)
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8 de 11 O túmulo do cacique Tibiriçá é um dos mais visitados (Foto: Marcus Oliveira)
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9 de 11 O silêncio predominante no espaço é quebrado apenas por uma das cerimônias realizadas diariamente ao meio-dia (Foto: Marcus Oliveira)
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10 de 11 Chama atenção no espaço de 619 metros quadrados e sete metros de altura, o piso de mármore de Carrara, em preto-e-branco (Foto: Marcus Oliveira)
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11 de 11 Nunca houve uma exumação no local e o espaço é hoje utilizado apenas para cerimônias fúnebres (Foto: Marcus Oliveira)
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Diante do vai e vem na Praça da Sé, cerca de mil pessoas fazem questão de passar diariamente pela catedral. Dentre elas, cerca de cem fiéis se arriscam semanalmente a desbravar uma parte desconhecida do monumento. A cripta foi construída exatamente sob o altar da igreja e guarda quinze corpos de bispos portugueses e brasileiros que atuaram na cidade de São Paulo.
Entre os trinta túmulos disponíveis em volta da área, o mais procurado está localizado atrás das escadas de acesso e é do cacique Tibiriçá, um dos primeiros índios a ser catequizado e um importante nome da história. Ainda dentre os “moradores” da cripta, está o corpo do primeiro bispo brasileiro, Antônio Joaquim de Mello, de 1861.
O silêncio predominante no espaço é quebrado apenas por uma das cerimônias realizadas diariamente ao meio-dia. Chama atenção no espaço de 619 metros quadrados e sete metros de altura, o piso de mármore de Carrara, em preto-e-branco, e o teto, cheio de arcos com tijolos, parecidos com os da catedral.
Segundo a guia Vera Regina Gomes, que trabalha no local há nove anos, nunca houve uma exumação ali e o espaço é hoje utilizado apenas para cerimônias fúnebres. Entre as demais curiosidades da cripta, em seu altar há uma réplica do Santo Sudário (pano que teria envolvido o corpo de Jesus após sua morte) e duas esculturas em mármore: Jó, o afligido do Senhor, e São Jerônimo, ambas assinadas por Francisco Leopoldo, irmão do arcebispo dom Duarte Leopoldo e Silva, responsável pelo início das obras da Sé.
Serviço: o local pode ser visitado mediante agendamento por telefone: 3107-6832. R$ 4,00.
Cinzas de Buda
As cinzas de Buda são guardadas a sete chaves no em um templo, no bairro da Saúde
(Foto: Marcus Oliveira)
Cheio de mistérios e duramente revelado à reportagem, o templo da Comunidade Budista Nitirensyu do Brasil, comandado pela monja Myoho Ishimoto, abriga um dos tesouros mais raros da cidade. O espaço guarda a sete chaves parte das cinzas reais de Buda, um dos maiores símbolos da cultura indiana.
Os restos dele, segundo a monja, estão dentro de um recipiente de cristal, localizado no chamado buchare(uma parte redonda fixada no alto do templo). As cinzas, de acordo com a religiosa, foram trazidas por seu marido, Emyo Ishimoto, diretamente da Índia. Para guardá-las, foi criado um local, que após a morte do companheiro, continua mantendo as tradições e práticas da religião até hoje. A monja comenta ainda que o buchare não é completamente perfeito, pois falta ali uma estátua de Buda.
Mas quem se interessar em ver de perto o recipiente deve guardar a curiosidade para si. O local não é aberto ao público e realiza pouquíssimas cerimônias abertas. A reportagem tentou por duas semanas fazer uma visita ao espaço, mas não obteve autorização da monja Myoho Ishimoto.
Museu de Arte Sacra
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1 de 8 início do processo de exumação das irmãs (Foto: Divulgação)
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2 de 8 Túmulos na parede do Museu de Arte Sacra (Foto: Divulgação)
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3 de 8 Restos mortais de umas das freiras (Foto: Divulgação)
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4 de 8 Durante o processo, os arqueólogos descobriram dois corpos juntos (Foto: Divulgação)
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5 de 8 O local é o único espaço da cidade de São Paulo onde é possível realizar um enterro fora de cemitérios (Foto: Divulgação)
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6 de 8 Sapato bem preservado de umas das freiras encontradas na exumação (Foto: Divulgação)
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7 de 8 O anúncio dos corpos mumificados das duas freiras, na época, movimentou fiéis ao local (Foto: Divulgação)
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8 de 8 Atualmente, o local está fechado e passa por uma reforma (Foto: Divulgação)
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O local é o único espaço da cidade de São Paulo onde é possível realizar um enterro fora de cemitérios. Ao todo, sete corpos de freiras embalsamadas estão por trás das paredes do museu. Em 2008, durante uma escavação à procura de um foco de cupins, foram descobertos dois corpos mumificados de irmãs da ordem espanhola das Concepcionistas, que até hoje, mantém a prática da clausura no Mosteiro de Frei Galvão.
O anúncio dos corpos mumificados das duas freiras, na época, movimentou fiéis ao local, mas por ondem de suas representantes, não foi possível ver de perto os restos mortais das irmãs. Atualmente, o local está fechado e passa por uma reforma. A administração promete transformar a pequena sala com os túmulos, que já havia sido usada como cemitério, em um museu, onde os curiosos poderão ver as paredes que repousam as irmãs.
Ao todo, 18 freiras com idades entre 25 e 40 anos vivem enclausuradas por lá. Sendo duas com 18 anos, chamadas de noviças. Elas cuidam de todo o espaço, inclusive da manutenção do cemitério das irmãs, uma casinha localizada do lado direto, fora do Museu, e, literalmente, não dão as caras ao público.
Serviço: aberto diariamente, das 10h às 18h. Gratuito aos sábados.
Túmulo Julio Frank
O túmulo do professor Julio Frank fica no Largo São Francisco
(Foto: Marcus Oliveira)
O túmulo do professor Júlio Frank está em um dos pátios internos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo São Francisco. Algumas poucas flores secas parecem prestar homenagem ao estudioso.
Ali, muitos dos estudantes que usam o espaço para repousar entre uma aula e outra ou para se ocupar de uma leitura desconhecem o fato de dividirem o espaço com um tumba. "Não fazia a mínima ideia, é sério?", surpreende-se uma das pessoas sentadas nos bancos espalhados em volta do túmulo.
O corpo do professor de origem protestante foi enterrado no pátio da própria faculdade no final do século XIX. Segundo a administração, a iniciativa de enterrar Júlio Frank na universidade partiu dos próprios alunos da época.
Serviço: aberto diariamente, no horário de funcionamento da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Túnel da Rota
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1 de 9 O túnel que já contou com quase três quilômetros de extensão hoje tem apenas 100 metros (Foto: Marcus Oliveira)
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2 de 9 Fotos e quadros contam a história da Rota na cidade (Foto: Marcus Oliveira)
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3 de 9 Artigos usados pelos policiais estão expostos no local (Foto: Marcus Oliveira)
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4 de 9 Imagens contam a história dos policiais que fizeram história na corporação (Foto: Marcus Oliveira)
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5 de 9 O subterrâneo de terra batida e pouca luz possui um clima pesado e pouco arejado(Foto: Marcus Oliveira)
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6 de 9 Segundo o sargento Cristiano Bauer, em uma das passagens, ainda moram morcegos (Foto: Marcus Oliveira)
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7 de 9 Uma das passagens fechadas do túnel (Foto: Marcus Oliveira)
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8 de 9 Túnel tem uma aparência sombria (Foto: Marcus Oliveira)
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9 de 9 Duas celas fechadas serviam como salas de reunião dos policiais (Foto: Marcus Oliveira)
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No prédio do quartel de Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), na Avenida Tiradentes, o túnel que já contou com quase três quilômetros de extensão, e ligava o quartel a outras unidades de segurança e à antiga penitenciária da Avenida Tiradentes, hoje tem apenas 100 metros e foi transformado em uma espécie de museu, com muitas fotos e cartazes, que contam a história do batalhão na cidade.
O subterrâneo de terra batida e pouca luz possui um clima pesado e pouco arejado, com grandes teias de aranhas. Segundo o sargento Cristiano Bauer, em uma das passagens, ainda moram morcegos.
Duas celas fechadas serviam como salas de reunião dos policiais. Os túneis – também usados por soldados na Revolução de 1924 – parecem guardar mistérios, que envolvem inclusive histórias da ditadura militar.
Serviço: é possível visitar o espaço somente as sextas, mediante agendamento pelo telefone 3327-7062.
Túnel do HC
O corpo da cantora Elis Regina passou pelo Túnel do Hospital das Clínicas
(Foto: Marcus Oliveira)
Localizado bem abaixo da Avenida Doutor Enéas Carvalho de Aguiar, o túnel de 90 metros de comprimento é fechado para visitação e tem como função levar os corpos dos pacientes mortos no Hospital das Clínicas ao Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), no Instituto Médico Legal (IML). Ao todo, o movimento funeral fica entre doze e quinze corpos ao dia.
Para isso, os enfermeiros (sempre dois) levam os cadáveres em macas e contam com a ajuda de elevadores durante o trajeto. No caso de crianças, os corpos são levados no colo, “é um carinho das enfermeiras”, revela a diretora de administração do hospital, Rita de Cássia Peres, que trabalha no local há 32 anos.
A umidade das paredes brancas e os ruídos dos elevadores e portões criam a fama de mal-assombrado. Para acentuar ainda mais a popularidade do túnel, os dois dutos que dão diretamente para a porta do pronto-socorro fazem parecer que existem vozes no corredor, e, segundo a administradora, muitos funcionários não passam por ali.
Além de anônimos, corpos de famosos já estiveram pelo “corredor da morte”, como foi o caso da cantora Elis Regina. Na ocasião, além dos fãs, os próprios funcionários queriam acompanhar o corpo da artista até o último momento e isso causou um tumulto gigante, revela Rita.
Museu da Energia
O porão do Museu da Energia já abrigou cerca de 80 famílias
(Foto: Marcus Oliveira)
O casarão que já foi motivo de pânico para os moradores do centro da cidade, hoje abriga o Museu da Energia. O sobrado pertenceu, no século 19, a Henrique Santos Dumont, irmão de Santos Dumont, e anos depois funcionou como um colégio.
O interior da casa projetada por Ramos de Azevedo possui exposições que contam a história do sistema de energia elétrica no Brasil e fotos antigas do local, que durante pouco mais de vinte anos abrigou cerca de oitenta famílias sem-teto e se transformou em um ponto bastante evitado por quem morava na região. Detalhes como ladrilhos hidráulicos italianos, parede de taipa e desenhos pintados com fios dourados se mantêm da estrutura original.
O grande mistério do lugar é o porão, atualmente fechado ao público. Sua área é toda composta de labirintos e, segundo a administração do espaço, não é aberto para visitação por não possuir uma rota de fuga e não ter infraestrutura suficiente para receber pessoas e, portanto, hoje abriga materiais não utilizados nas exposições.
O teto bastante rebaixado cria algumas dificuldades de movimentação por entre as colunas. Ainda de acordo com os administradores, é comum a visita de pessoas que moraram no espaço e hora ou outra, contam histórias curiosas sobre o local. Entre elas, detalhes do porão, que foi escavado pelos antigos moradores para aumentarem a área.
Escondida está a réplica de uma escada idealizada por Santos Dumont. O inventor era muito supersticioso e projetou uma escada onde só era possível dar o último passo com o pé direito. Porém, como se trata de uma réplica, a peça projetada no Museu da Energia não seguiu a risca as regras de Dumont e estimula o usuário a pisar com a perna esquerda.
Serviço: funciona de terça a sábado, 10h às 17h. Grátis.